Jetstortopia

Cabeça de Concha

Posted on: 23/09/2010


Minha família e meus amigos sabem de longa data que sempre fui fã do Homem de Ferro, o superherói tecnológico da armadura vermelha e dourada. Sempre é modo de dizer: nasci em 1962, o personagem foi criado (por Stan ‘The Man’ Lee e Jack ‘The King’ Kirby, com auxílio luxuoso de Larry Lieber e Don Heck) em 1963, e só fomos apresentados um ao outro em 1967. Alguém já contou essa história em outro lugar, mas vou repetir: os personagens da editora Marvel, Homem de Ferro incluso, foram lançados nessa época no Brasil numa das mais bem sucedidas campanhas de marketing até então concebidas.

Em 1967 a Editora Ebal, que há anos publicava Superman, Batman e outros heróis da editora DC, passaria a publicar também as estórias do Capitão América, Thor, Hulk, Namor e Homem de Ferro. Antes de aparecerem nas bancas, porém, os postos de combustível Shell passaram a distribuir de graça, durante um certo tempo, os números zero das revistas, ao mesmo tempo que as lojas de brinquedos recebiam bonecos, lancheiras e bolas fabricados pela Atma, e a TV Bandeirantes anunciava nas próprias revistas que seus desenhos (‘desanimados’, como ficariam conhecidos posteriormente, devido á baixa qualidade da animação) iriam ao ar em breve… não havia como um pobre garoto de 5 anos resistir! 

O golpe de misercórdia veio de forma inusitada. Naqueles tempos nós paulistanos não tínhamos essa pletora de shoppings e trânsito para nos divertir, e um dos jeitos era visitar as feiras e exposições temáticas que ocorriam anualmente. A UD (Feira de Utilidades Domésticas) e o Salão do Automóvel eram as mais conhecidas, mas havia também o Salão da Criança, naquela época sediado no Pavilhão da Bienal do Ibirapuera, próximo ao bairro onde morava então. É claro que queria ir lá todo ano, pois haviam atrações como brinquedos típicos de parque de diversões, estandes de produtos infantis, e naquele ano específico um estande da Shell promovendo em primeira mão sessões dos ainda inéditos desenhos com os superheróis Marvel.

Obviamente arrastei meus pobres pais para assistir, porém para minha frustração o lugar da projeção era totalmente inadequado: vazava muita luz do entardecer e no início só era possível ouvir o áudio. Após longos e angustiantes minutos, lentamente começou-se a perceber os contornos dos personagens movendo-se na tela, até que subitamente (assim diz minha memória) podia-se ver perfeitamente as imagens de um novo episódio começando: exatamente o do Homem de Ferro em toda sua glória vermelha e amarela!

Hoje em dia o Homem de Ferro está totalmente em alta (em algum post futuro pretendo comentar algo mais sobre suas melhores estórias), mas naquela época não era nada fácil ser fã do personagem… por mais que evitasse admitir, ele era tipicamente de segunda linha: os destaques sempre iam para os personagens abençoados pelos desenhos de Jack Kirby (Thor, Quarteto) ou onde Stan Lee fazia seus roteiros revolucionários (misto de novelão, aventura e uma pitada de sci-fi) funcionarem no seu melhor, caso do Homem-Aranha.

O Homem de Ferro podia ser chamado reverentemente de ‘vingador dourado’ em algums momentos, mas era mais comumente apelidado ‘carinhosamente’ de Shellhead o que (quando aprendi um pouco de inglês vim a descobrir, para minha mais profunda decepção) significava literalmente ‘cabeça de concha(em alusão ao desenho do capacete)… como podiam os próprios responsáveis por suas estórias esculacharem meu herói preferido dessa tosca e malfadada maneira?

Fora que Tony Stark, o homem por dentro da armadura, não era nenhuma flor que se cheirasse: milionário, playboy, gênio arrogante, industrial capitalista… como identificar-se com um personagem assim? (reza a lenda que Stan Lee quis testar sua capacidade de criar um personagem de difícil empatia e fazê-lo ainda assim emplacar junto ao público).

Nunca pude explicar muito bem mesmo… a não ser por aquele inefável e longínquo anoitecer, onde o ocaso do sol e o acaso da vida se combinaram no momento preciso e uma epifanía vermelha e amarela se revelou aos olhos abismados de um guri… 

4 Respostas to "Cabeça de Concha"

[…] um dos principais artistas a ter passado pelas páginas do meu personagem favorito, Iron Man, sendo ao lado de George Tuska (1916-2009) um dos seus melhores artistas na fase clássica do […]

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[…] Apresentando o material originalmente publicado pela Marvel em Iron Man #s 14, 15 e 16 (junho a agosto de 1969) com roteiro do veterano Archie Goodwin e arte dos excepcionais George Tuska & Johnny Craig, esse arco apresenta a primeira aparição do Fantasma da Noite (o qual retornaria apenas mais uma vez em Iron Man #44, de janeiro de 1972) bem como a reaparição do Unicórnio, desta feita aliando-se ao Vingador Dourado no combate ao Fantasma Vermelho – um belo bando de vilões exóticos saídos da peculiar galeria de inimigos do nosso Cabeça de Concha… […]

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Sensacionaarl é a sua memória, Dr. Jorge. Realmente, o Homem de Ferro te encantou, como, também, a milhares de crianças. Eu fui ter contato com o Homem de Ferro e os heróis da Marvel através dos desenhos desanimados, mas que eram bem legais e me impressionavam psicologicamente, com suas questões existenciais, além do bem ou do mal. E o Tony Stark, além de milionário, playboy, gênio arrogante, industrial capitalista, como você muito bem tratou, tirava onda de cientista espacial, mas como Homem de Ferro, tornava-se elétrico, atômico, genial – hehehe

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Valeu Sylvio! A musica-tema, como vc bem lembrou, era uma verdadeira pérola, hehe… abs!

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